Esta manhã, ao espelho, o primeiro cabelo branco, impaciente, antecipou-se ao felicitar-me. Censurei-lhe a pressa e recomendei-lhe que regresse amanhã, conforme o combinado.
Clof, clop, cloch, clofete, clopete, cloquete, chchchchch... Sussurra no pátio, a fonte doente; que angústia senti-la tossir! E tosse que tosse, um pouco se cala, de novo que tosse. Ó minha pobre, ó fonte, o mal que tens o peito me oprime. E cala, não verte mais nada, não se ouve rumor nenhum... Será... Será que está morta. Que horror! Ah, não! Já volta de novo que tosse. Clof, clop, cloch, clofete, clopete, cloquete, chchchchch... A tísica mata-a. Meu Deus, aquele seu eterno tossir faz-me sentir que morro entretanto! Que coisa! Mãe Zabel, Vitória! Acorram, acudam, à fonte, que morro c'o seu eterno tossir! Oh venham, arranjem que for que a faça acabar, quem sabe... esticar! Ai Virgem! Jesus! Truz-truz, Catapruz! Ó minha pobre, Ó fonte doente, c'o mal que tens, acabas, verás que me matas ainda, Clof, clop, cloch, clofete, clopete, cloquete, chchchchch...
Aldo Pallazzeschi, La Fontana Malata (tradução de Jorge de Sena)
Após um grande período de seca existem, felizmente, as conjuntivites, alergias e outras. O inevitável por via do artifício, mas é uma limpeza! Lava tudo, mesmo tudo.
Bom, primeiro foi o teu sorriso e o peito fragmentado. Só depois, entretida em compor um imaginário palpável, me deitei a pensar-te. Não é melhor, nem pior, impor este avesso. O corpo, quando chega, é quase sempre um retardatário incensurável.
Então, também não me fica nas mãos. É arremessado a este, irregular e parco em palavras, pela aplicação de uma bonita máxima da civilidade e etiqueta naquela que é a maior das solenidades.
O elogio do arame. Que pode ser esticado a um palmo da terra ou a sete do céu, e faz toda a diferença. Abrir os braços e curvar a planta do pé. Depois, é a partir daí que pode ser tudo diferente. E lembrar-me daqueles livrinhos da adolescência que eram afinal um jogo que abríamos no pátio da escola, nos intervalos. Uma narrativa múltipla escolha, que se folheava em shuffle. E as músicas todas em shuffle, à espera que alguma surpreenda agora. À espera de um alinhamento inaudito que se leia. E o que diz. De inícios, de fins. De sonos, de insónias. As que têm brida, rédeas, guitarras; as outras, que quando começam já vêm, parece, fazendo a despedida, fade out perpétuo. E somar as vezes em que todas elas dizem “silêncio”, estranhamente. Como todos nós, numa cacofonia impossível. E, tudo em shuffle, contra o aborrecimento. Mas, as conversas como quem arranja o peixe. A driblar engasgos. E algumas outras coisas com a diligência doméstica de quem sacode tapetes. Com os braços retesos e safanões fortes, rápidos, à espera de um bilhete que tarda, que me leve. E ver tudo isto com os óculos com que de manhã vi a lua, naquele encontro improvável, a cruzar o sol. Baralhar e dar de novo.