quinta-feira, março 24, 2005



olhos de ver

Via Schipol

Como sempre, acabo por chegar à conclusão que adoro o silêncio. Das teclas. Nada a declarar, longamente.

A menos que... diga que... adoro poder fazer tudo quanto posso, poder bastante, mas lamentavelmente haver muito que me ultrapasse. É caso para não poder esperar um ano, ou mais. Para me sentir arrastada pelos cabelos por uma coisa que eu acho que já não se sente, hoje.

Que pena. Ser tão bem educada para tanta coisa, mas faltar-me a formação para o amor. Invencível coração. Se não me arrebata, ainda que lembre os canais, e o gelo, e a neve que caía no dia da partida, e eu levava a certeza já comigo, via Schipol, não... não é isto. Já foi há mais de um ano.

Nunca mais se alvoraçou, me atropelou os pensamentos, este magno, frio e decidido coração. Quer solidão. Mesmo que na ilha escondida, mesmo que a imaginar heróicas imagens de BD com encarnações ridículas... Como a do marinheiro, meio pirata, meio vagabundo, meio salvador, que é um tipo, um tipo como tu...

Queria sentir o rebate, a guina guinada aguda aguçada as mágoas e as borboletas. Ficar louca, mouca, pouca para tanto mar, maré, marinheiro, e seguir, insuflar o ventre e o coração para a vela, vento, proa da tua embarcação.
Mas sigo inerte, dura, aqui não há coração...

sábado, março 12, 2005



olhos de ver

Flasher: breve bagagem para a primeira incursão

A autora é jovem. Bastante jovem. Aparentemente recusa-se alargar os quinze anos em que se fixou o seu rosto e, por obstinação, rejeita determinantemente a sinistra idade adulta em que se impõe a perda da inocência – ditam.
Paradoxalmente, a autora não é inocente. Perseguem-na culpas de todo o género, mas eis que se entra no domínio da essência, e sentir culpa é tão só humano.
A autora tem pretensões à literatura, sem nunca ter escrito um romance. É tão autora quanto tem quinze anos.
Digamos que escreve em todos os sentidos, nomeadamente, o escriturário.
Não milita. Nenhum filão para garimpar. Mas, que não liberdade! Porque faz pastiches coloridos que não sabe se são seus ou… onde mesmo os fui buscar?
O que não faz da autora uma pessoa independente. De modo nenhum! Depende como uma criança. De tudo e de todos. É uma altereinómana (?). Senão, de que se constituiria?E de que conteúdo íntimo se poderá libertar numa incursão pela rede do anonimato? Que bem sabe a publicidade quando não acarreta – como dizem os britânicos – accountability
Os medos, as paixões, as causas, os jogos, os vícios, as sujeições, os erros de toda a espécie são confessáveis aqui, conquanto que verbalizáveis.
Esta autora comove-se. E assume a luta interna que trava para aspirar sem vergonha ao coração. Parece que se aponta ao peito quando se designa como meta outra coisa que não a progressão do intelecto. Aponta ao peito.
Diz-se que consiste em ser melhor. Portanto, a autora aponta ao alto, à mais instável das tarefas. Mas é apenas um objectivo esquisito e quase inconfessável.
Mas que não se desvalorize uma boa cabeça! Ela é crucial para pôr a trabalhar o coração.
Inevitavelmente, decorre que a autora diligencia imensos processos de condenação pessoal. Normalmente, nos intervalos de algum tipo de dormência. É fácil perder o horizonte quando se tem quinze anos.
A autora também aspira a um qualquer tipo de percurso da mente, que se iniciou, está em marcha, escreve-se ao ritmo de um jornal diário. De manhã é uma empresa. À noite perdeu a validade.

E, por ora, basta! Onde nos leva este sem pudor exibicionista?