Pratt corrompido
Foi afinal ela um dia que trocou a ilha pelo mar salgado. Ele contava ao longe que já sentia a calmaria, a casa, as amarras. No regresso, escondida, sem uma despedida, tinha medo. Abandonou o cais, rodando a cabeça sobre os ombros mais do que uma vez. Devia ser noite já bem cerrada quando desfez a vela no mastro e deu as primeiras braçadas, escapando à enseada, ao abrigo incerto da espera. Ainda se ouviu o chapinhar na água, mas ela partia muda, a sentir-se clandestina como numa fuga planeada. Nas janelas iluminadas das casas pequenas, podia quase adivinhar-se-lhe a silhueta de recém-chegado, pousando as malas. Ela podia ter batido a uma porta qualquer, perguntado por ele. Antes corria a perguntar a quem fosse se ele voltaria, que o peito oprimia contra o longo tecer das mantas, desmanchadas de novo quando vinha a tardinha. Levou muito tempo até crer que o sal do mar também mata a sede. E já se sentia capaz de fazer viagem. Na partida, calou, e ele devia saber que esse era o som mais bonito a toar nessa noite.
<< Home