sábado, abril 30, 2005
Oração interrogativa
Na praça há um grande obelisco em torno do qual se aglomeram milhares por um defunto e, depois, por uma voz que começa a soar entre as paredes do grande edifício que se encontra por trás. É uma massa enorme, de olhos postos nas janelas, nos telhados, um olhar atento que provém dos mais remotos lugares. O mundo espreita uma pequena chaminé: um metro de altura, ferro, esguia, anunciadora.
Lá dentro, a primeira voz ouve-se. É um homem, e reza. O que me pergunto, o que me inquieta, o que é talvez uma simples curiosidade sobre um indivíduo, além do que possa representar: será que as orações lhe saem mecânicas, como tantas vezes a mim, no meio de todos os afazeres e textos fechados que concluem as vidas de milhares a imensas distâncias? Será que conversa? Será que sente que as palavras proferidas não embatem e retornam da fronha da almofada, à noite, antes de dormir, descobrindo ou suspeitando que afinal conduz um monólogo para o algodão da cama e para si próprio? Como será a fé de um homem assim?
Lá dentro, a primeira voz ouve-se. É um homem, e reza. O que me pergunto, o que me inquieta, o que é talvez uma simples curiosidade sobre um indivíduo, além do que possa representar: será que as orações lhe saem mecânicas, como tantas vezes a mim, no meio de todos os afazeres e textos fechados que concluem as vidas de milhares a imensas distâncias? Será que conversa? Será que sente que as palavras proferidas não embatem e retornam da fronha da almofada, à noite, antes de dormir, descobrindo ou suspeitando que afinal conduz um monólogo para o algodão da cama e para si próprio? Como será a fé de um homem assim?