quinta-feira, julho 21, 2005

Arderam os teus pinhais

Hoje arderam os teus pinhais.
Vi durante o dia, no noticiário, que as labaredas chegavam perto de mais, mas só quando cheguei a casa é que me apercebi, pelos olhos dela, que o que fogo tinha consumido não eram os pinheiros, mas o que tu tinhas plantado.
Não sei se a fuligem que cai na memória dela é a mesma que cai na minha. Devem ser daquelas cinzas que se amontoam já sem que alguém as espalhe para fazer terra fértil. E por isso mais tristes.
Eu consigo sorrir a recordar do tempo em que seguia pisando os fetos rasteiros para que me desses a conhecer o lugar dos marcos que limitavam os pinhais. Prestava atenção evadindo-me a espaços para rondar as silvas e encher os bolsos de amoras. Usavas, lá, as calças de ganga, mas só lá, e ouvíamos os melros enquanto me ajudavas a decorar a Balada da Neve, as versões deturpadas do Hino da Mocidade Portuguesa, e toda a tua história – que ainda sei de coração.
Acho que sorri porque há muito tempo não sonho contigo. O fogo avivou-te, mas lamento os pinheiros por causa dela.